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Meu filho precisa de um diagnóstico ou é apenas viciado em celular?




Hoje em dia é difícil encontrarmos um jovem, ou mesmo uma criança sem um celular nas mãos, com toda sua atenção retida pela tela, tendo dificuldade até mesmo de ouvir quando algum adulto chama por seu nome. O uso exagerado das telas é uma preocupação constante dos pais e responsáveis. E não é sem razão que devemos nos preocupar.

Como podemos ver em documentários como "O Dilema das Redes" e podemos constatar na nossa própria experiência de usuários de redes sociais. E como o próprio nome que nos é dado por essas plataformas, onde somos "usuários" (mesmo nome utilizado para designar usuários de drogas), demonstra, as redes sociais são ferramentas potentes e revolucionárias tanto quanto viciantes.

O uso exagerado das telas, sendo a principal o celular, é prejudicial para qualquer pessoa, todavia, quando falamos de crianças e adolescentes, esse abuso pode ser devastador. Isso porque o cérebro ainda está em desenvolvimento. E se para adultos com o Cortex Pré-Frontal (responsável pela nossa capacidade de nos colocar limites) completamente desenvolvido têm se mostrado cada vez mais difícil limitar o tempo gasto na tela do celular. Para crianças e adolescentes que não possuem o CPF completamente desenvolvido esta tarefa pode se tornar impossível. Por isso a restrição do uso das telas precisa ser imposta pelos pais e responsáveis.


Mas será que o uso irrestrito do celular é tão prejudicial assim?



Os prejuízos são bem piores do que se pode imaginar. O celular estimula o cérebro a alternar entre tarefas rapidamente, então uma criança que começa seu dia usando o celular, dificilmente terá concentração para assistir uma aula, independente do conteúdo apresentado.

Se tratando diretamente das redes sociais, há o sistema de recompensa variável, onde as notificações, likes e comentários ativam o sistema de recompensa cerebral, liberando dopamina, o que pode levar à dependência e distração constante. Volto a lembrar que, ao falarmos de crianças e adolescentes estamos falando de indivíduos que não possuem a capacidade de se limitar plenamente desenvolvida em seus cérebros, ou seja, são indivíduos muito mais propensos ao vício nas redes sociais.

A frequência de informações recebidas gera a sensação de estar sempre acontecendo algo importante, algo que estamos "perdendo", pelo simples fato de sermos humanos e não conseguirmos estar em todos os lugares ao mesmo tempo. A espera pelo próximo like também é um fator ansiogênico. Então a ansiedade se torna um sentimento comum para quem faz uso abusivo das telas.

O uso constante do celular gera ainda, isolamento social e insônia, afinal, há uma grande perca da capacidade de se estar no momento presente (aqui e agora) quando estamos no celular. O feed infinito atrapalha a percepção de tempo e a exposição à luz azul das telas interfere no ritmo circadiano, levando a dificuldades para dormir.


O que caracteriza vício em celular e/ou telas?


Para responder essa pergunta, precisamos antes de mais nada, diferenciar hábito de dependência e vício.


  1. Hábito: É um comportamento repetitivo e automático, geralmente desenvolvido por meio da prática contínua, que se torna uma parte integrante da rotina diária.

  2. Dependência: Envolve uma relação física ou psicológica intensa com o objeto do vício, levando a sintomas de abstinência quando privado dele.

  3. Vício: Refere-se ao uso compulsivo e repetitivo de um comportamento (como o uso do celular) ou substância, apesar de suas consequências negativas.


Podemos então afirmar que, quando há abstinência em relação ao celular, o uso do mesmo já deixou de ser um hábito. Quando há aparecimento de sintomas já se tornou um vício.


Como distinguir sintomas de transtornos psíquicos dos sintomas gerados pelo vício no celular?


Em alguns casos não há distinção, pois o vício no celular pode já ter gerado transtornos psíquicos como: Transtorno de Ansiedade; Depressão; Défice de Atenção e muitos outros. Mas quando os sintomas não caracterizam um diagnóstico o uso controlado do celular trará uma grande melhora dos sintomas. E mesmo nos casos em que o diagnóstico está bem estabelecido, a diminuição do uso do celular trará melhores resultados no tratamento.

Lembremos que crianças e adolescentes são mais influenciados pelo exemplo que damos a eles do que pelo que aconselhamos que eles façam. Assim, os pais precisam estar atentos ao uso que fazem de seus próprios celulares, afim de dar o exemplo e estabelecer momentos de interação sem uso de tela dentro de casa. Uma rotina bem estabelecida, com atividades físicas, leitura, tempo ao ar livre e tempo restrito de uso do celular, hoje são requisitos para a saúde mental e física das nossas crianças e adolescentes.


Segue abaixo as recomendações da OMS, para uso de telas:

1. Crianças de 0-2 anos: Sem telas, exceto para videochamadas.

2. Crianças de 3-4 anos: Limitar a 1 hora de tela por dia.

3. Crianças de 5-18 anos: Limitar a 2 horas de tela por dia.


As recomendações são para tempo máximo de uso de telas por dia, incluindo não somente o celular, como TV, computador, tablets, vídeo games e afins. Com todos os prejuízos que o celular pode causar às crianças e adolescentes, o ideal seria que as crianças não acessassem os aparelhos.

Procurem ajuda profissional sempre que julgarem necessário.

Estou à disposição.


Referências


O Dilema das Redes (The Social Dilemma, 2020) dirigido por Jeff Orlowski;

Organização Mundial da Saúde (OMS) - "Uso de dispositivos eletrônicos e saúde mental";

Harvard Business Review - "O impacto do uso do celular na produtividade";

Universidade de Michigan - "O efeito do uso do celular na atenção".

 
 
 

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