Como diferenciar uma crise de angústia/ansiedade de uma reação "comum"?
- carolteixeirasil
- 15 de jan.
- 3 min de leitura

Certo dia, quando trabalhava em uma biblioteca de uma Escola Estadual de Belo Horizonte, uma aluna do Ensino Médio, entrou na biblioteca aos prantos, devido a uma situação vivida em casa, naquela manhã. A biblioteca que, para muitos estudantes, se tornou um lugar de refúgio, foi mais uma vez um espaço de acolhimento, onde a aluna desabafou, foi ouvida, aconselhada e se acalmou antes de voltar para a sala de aula.
O que me gerou reflexões que reverberam até hoje, foi o que aconteceu depois. Já calma e sem choro a aluna respondia para todos os colegas que perguntaram se ela estava bem, que ela havia tido uma crise de pânico ou uma crise de ansiedade, mas já estava melhor. No momento não me pareceu oportuno corrigir a aluna ainda fragilizada. Mas o que ela teve foi apenas uma crise de choro. Estava longe de ser uma crise de pânico ou ansiedade. Ela vivenciou uma situação difícil e dolorosa e teve a reação mais humana e comum possível, ela chorou.
Em outro trabalho uma colega também classificava seu choro como crise de ansiedade, e recentemente vi uma mãe classificar a birra monumental de seu filho, como uma crise. Esta última, tive oportunidade de conversar depois e explicar que o ocorrido foi apenas uma grande birra e não caracterizava uma crise.
Mas tenho pensado no quão comum está essa classificação de situações corriqueiras, que fazem parte da vida humana, como uma CRISE. Precisamos antes de mais nada, entender o que é uma crise, para sermos capazes de diferenciar uma reação à uma situação difícil, de uma crise propriamente dita.
O que é uma crise de Angústia/Ansiedade/Pânico?
Uma crise de angústia (que engloba o que chamamos de crise de ansiedade e crise de pânico) é um episódio intenso e temporário de medo, apreensão e desconforto emocional, caracterizado por sintomas físicos, que são um ótimo termômetro para o diagnóstico da crise. Os sintomas são: taquicardia ou palpitações, sudorese excessiva, tremores ou tremores musculares, dor no peito ou desconforto, náusea ou vômitos, tontura ou vertigem, respiração rápida ou superficial e cãibras musculares. Já os sintomas emocionais podem aparecer em situações que não são de crise, mas um indivíduo não vai experimentar todos esses sintomas de uma vez, sem estar tendo uma crise. São estes: medo intenso ou pânico, sentimento de perda de controle, ansiedade ou apreensão, desespero ou desamparo, dificuldade de concentração, sentimento de morte iminente, desrealização (sentimento de distanciamento da realidade).
Alguns sintomas físicos também podem aparecer separadamente em situações que não sejam necessariamente uma crise de angústia, afinal, quem nunca teve uma cãibra muscular e respiração ofegante? Em uma crise de angústia é provável que muitos, senão todos, os sintomas físicos, se apresentem. Mas é interessante observar que o choro não é um sintoma físico de uma crise de angústia, isso porque chorar é humano, é normal e não é um sintoma.
Há ainda situações que podem desencadear uma crise de angústia, como a notícia do falecimento de uma pessoa querida, neste contexto a crise de angústia pode ser a reação mais humana e comum possível. É importante reconhecermos os contextos em que a crise de angústia é a reação comum, para não cairmos na tentação de medicar uma pessoa somente por ela ser uma pessoa. Na dúvida, procure uma ajuda profissional antes de se auto diagnosticar e se auto medicar. Estou a disposição, e vocês conseguem entrar em contato comigo clicando no botão do WhatsApp disponível aqui no site.
Por último, mas não menos importante. Convido vocês a refletir sobre como hoje em dia, muitas pessoas se encontram desadaptadas ao convívio humano e tendem a procurar diagnósticos e medicamentos que, quando desnecessários funcionam como um anestésico social que deixa a pessoa ainda mais desadaptada com a própria rotina. E talvez venha daí essa tendência a classificar situações corriqueiras como crises de angústia. Mas isso já é assunto para um próximo texto, sobre hipermedicamentalização.
Referências
Organização Mundial da Saúde (OMS) - "Classificação Internacional de Doenças" (CID-11)
Ministério da Saúde (Brasil) - "Manual de Diagnóstico e Tratamento da Ansiedade"
National Institute of Mental Health (NIMH) - "Ansiedade"
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