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Como Diferenciar Tristeza, Luto e Depressão

Atualizado: 20 de mar.


Muitas vezes confundimos luto, tristeza e depressão, sendo a última um quadro clínico patológico. Tal confusão é comum e até provável de acontecer por se tratarem de conceitos parecidos que se relacionam fortemente. Todavia a distinção dos mesmos é de extrema importância para entendermos quando procurar ajuda profissional.


Comecemos pela definição de tristeza, por se tratar de uma emoção que todos nós sentimos, a compreensão se dá tanto através do conhecimento formal do que é tristeza quanto da percepção corporal da emoção, que pode levar a uma sensação de perda e vazio emocional.


Segundo Sigmund Freud, a tristeza é uma emoção que surge como resultado da perda de um objeto amado ou da frustração de um desejo. Em seu artigo "Luto e Melancolia", Freud define a tristeza como uma "reação afetiva à perda de um objeto amado" (FREUD, 1917, p. 245). Freud também destaca que a tristeza é uma emoção normal e necessária, que permite que a pessoa se adapte à perda e a partir do processo de luto, desligue a libido (energia psíquica) do objeto perdido. Ou seja, a tristeza é fundamental para que cada indivíduo lide com as perdas ao longo da vida, seja a perda de uma pessoa; de um ideal, como o de ter sucesso em uma carreira profissional; ou de uma parte do próprio indivíduo, como acontece com a passagem da infância para adolescência e posteriormente para a vida adulta. No entanto, quando a tristeza se torna excessiva ou persistente, pode se transformar em depressão, mas por enquanto vamos nos ater à tristeza e falaremos da depressão mais adiante.


Pensando o desenvolvimento psicológico de cada um de nós, a tristeza se mostra fundamental para o amadurecimento e é vivenciada ainda na infância. Segundo Melanie Klein, em "O Desenvolvimento da Criança" (1940), o bebê sente tristeza pela primeira vez entre seus 04 - 06 meses de vida. Diante da falta momentânea da mãe ou cuidador que exerce a função materna, que pode apenas ter ido ao banheiro, por exemplo. Klein defende que esta tristeza é precursora da capacidade de amar e de se relacionar com os outros de forma saudável, pois é a partir da tristeza que o bebê desenvolve a capacidade de lidar com a perda e a separação, e de se relacionar com os outros de forma madura e saudável.

Klein aprofunda brilhantemente sua teoria onde desenvolve a "posição depressiva" nos bebês. Não entraremos nos pormenores da teoria por uma questão de tempo, mas aos interessados, vale muito a pena ler Melanie Klein.


Pois bem, com o que vimos até aqui, podemos definir tristeza como uma emoção normal diante da perda, seja de um ideal, de uma pessoa, ou de parte de si; que pode levar a uma sensação de perda e vazio emocional. Sendo ainda uma emoção fundamental para o desenvolvimento psicológico, capacidade de lidar com o outro e capacidade de amar.


Podemos então partir para a definição de luto. Aqui fica evidente o quão relacionados estão a tristeza e o luto, contudo, a tristeza é uma emoção e o luto é um processo. Ou seja, o luto também ocorre após a perda de um objeto amado, como uma pessoa, um ideal ou uma parte de si mesmo. Mas a tristeza é a emoção sentida ao longo desse processo, e o processo é o luto. O luto é um processo de desligamento da libido (energia psíquica) do objeto perdido, permitindo que a pessoa se adapte à nova realidade sem o objeto amado/desejado, em outras palavras o luto é um processo doloroso em que sentimos tristeza.


O luto não é um processo rápido, pelo contrário, é um processo gradual, que envolve:

1. A Negação da perda: a pessoa se recusa a aceitar a perda.

2. Busca do objeto perdido: a pessoa procura o objeto perdido em outros lugares ou pessoas.

3. Desligamento da libido: a pessoa começa a desligar a libido investida no objeto perdido.

4. Ajuste à nova realidade: a pessoa se adapta à nova realidade sem o objeto.


Recapitulando, vimos que a tristeza é uma emoção dolorosa, mas extremamente necessária e importante para o desenvolvimento psíquico e amadurecimento do sujeito. E vimos que o luto é o processo gradual através do qual superamos e nos readaptamos a nova realidade, lidando com a falta do objeto perdido.


Podemos então e finalmente definir a depressão. Segundo Freud (1917), a depressão é uma condição psicológica caracterizada por uma profunda tristeza, perda de interesse pelo mundo exterior e sentimento de vazio emocional.

A depressão é uma forma de luto patológico, que se distingue do luto normal pela intensidade e duração da tristeza, além da presença de sentimentos de culpa e auto-reprovação.

A depressão também é causada pela perda de um objeto amado, que pode ser uma pessoa, um ideal ou uma parte de si mesmo. Mas na depressão essa perda leva a uma intensa identificação com o objeto perdido, resultando em uma internalização da perda e uma auto-agressão.

Ou seja, na depressão há uma perda não superada, um processo de luto não finalizado que se estende por tempo o suficiente até se tornar patológico. Neste caso é essencial que busquemos profissionais da saúde mental para fazer o acompanhamento necessário.


Podemos concluir que, a tristeza é uma emoção normal que surge sempre que temos que lidar com a perda e a frustração. O luto é o processo pelo qual superamos a perda e nos readaptamos á nova realidade. Já a depressão, embora também surja a partir da perda, traz uma tristeza profunda e duradoura, não havendo superação da perda e readaptação á nova realidade, na depressão há ainda um sentimento de auto-reprovação que não é comum na tristeza e deve ser observado na decisão da busca por ajuda.

Em outras palavras, se diante de uma perda você está profundamente triste e essa tristeza têm se estendido há alguns meses acompanhada do sentimento de auto-reprovação é provável que você esteja com depressão e é importante que você procure ajuda profissional.

Todavia, alguns processos de luto podem ser muito difíceis e exigirem acompanhamento psicológico, mas neste caso não deve haver o sentimento de auto-reprovação. E como a psicanálise sabiamente enfatiza, cada caso é um caso. Na dúvida, procurem um profissional da saúde mental, estou à disposição.


Referências bibliográficas:


- FREUD, S. (1917). Luto e Melancolia. In: Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 14, pp. 243-258). Rio de Janeiro: Imago.

- FREUD, S. (1923). O Ego e o Id. In: Obras Completas de Sigmund Freud (Vol. 19, pp. 13-66). Rio de Janeiro: Imago

- KLEIN, M. (1940). O Desenvolvimento da Criança. In: Obras Completas de Melanie Klein (Vol. 2, pp. 13-35). Rio de Janeiro: Imago.

 
 
 

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